segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

A garota cinza e o desconhecido

Três horas da manhã de uma segunda-feira. O céu está repleto de nuvens cinzas, cinzas como as nuvens dos pensamentos daquela menina, deitada no meio daquele gramado úmido. Cinza é uma cor solitária, que nunca sabe se está triste ou feliz assim. Estendida de cabelos ao vento, a garota cor de cinza sente falta de alguém, de um completo estranho. Ela nunca o conheceu, mas sente como se o conhecesse a vida inteira. Colocando os headphones no máximo, viajando em seus pensamentos, tentando aliviar a falta daquele que sem saber, já a tem.

Mas ah, se ele aparecesse agora! Se ela apenas pudesse olhar seu rosto de relance, para decorar seus traços. Se apenas pudesse saber o seu nome, ou o timbre da sua voz. Será que essas nuvens cinzas poderiam se juntar, dando forma ao rosto do desconhecido? Não de um desconhecido qualquer, mas do desconhecido da garota cor de cinza, talvez assim fosse mais fácil esperar 7 dias, 7 meses, 7 anos. Ninguém disse que seria fácil. Mas ela continua ali, pacientemente olhando para o céu. Será que ela adormeceu? Acho que não. Quem sabe se você se aproximar, se chegar mais perto, poderá ver que no rosto dela há um terno sorriso, e seus olhos estão bem abertos, confiantes. Nem tudo é o que parece, depende da sua perspectiva, depende do ângulo que você vê. Uma aparente frieza, se vista por outro ângulo, pode ser uma evidente cautela.

E você fica apenas aí parado, olhando de longe, observando cada movimento, tentando decidir se vai se aproximar ou não. As horas vão passando, o ponteiro lentamente caminhando e, de repente, sem se dar conta, amanheceu e você está a poucos metros dela, como se tivesse sido atraído por um ímã. A aurora iluminou o rosto da garota, ela, na verdade, nunca foi cor de cinza. Mechas cor de chocolate, pele tão branca que brilhava como os raios do sol, olhos da cor do gramado em que se deitara, era uma tempestade de cores, como um prisma. Deixando o cinza para trás, ela vira para você como se te ver fosse rotina e simplesmente diz "Olá estranho, já era hora de você aparecer". E desde então nada mais será o mesmo, o singular vira plural, o "eu" vira "nós", tudo se mistura e não se sabe mais o que é de quem, em uma tela outrora cinza, pintada agora de aquarela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário